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Brasileiro gay que vive em Beirute afirma: Existe vida LGBT+ no mundo Árabe

LGBT árabe
Pinterest Lily Luna
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Recentemente a notícia de que um evento LGBT+ aconteceria em Dubai, nos Emirados Árabes, chamou atenção da mídia especializada no mundo todo. Importantes portais de notícias focadas na comunidade LGBT+ replicaram a informação questionando a idoneidade do evento. O fato é que a notícia foi amplamente discutida e compartilhada nas redes sociais, principalmente em um grupo do facebook chamado “ LGBTQI+ Resistencia pela Democracia”.

O grupo é um dos maiores do Brasil e possui mais de trezentos mil membros. O tema central está sempre relacionado a políticas públicas e assuntos que cercam a comunidade LGBT+.

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Dentre os milhares de comentários recebidos na postagem sobre o tal evento LGBT+ em Dubai, quase todos aterrorizados com a possibilidade de um país Árabe receber um evento LGBT+, um chamou a atenção.

O jovem brasileiro Giovanni M. M. Hojeije, de 20 anos, que hoje mora em Beirute, capital do Líbano, tentou desmistificar um pouco a questão sobre perseguição à LGBT+ nos países do Oriente Médio. Claro que, como em qualquer grupo no facebook, houve represarias de alguns  membros, mesmo daqueles que nunca pisaram em um país Árabe.

A discussão chamou nossa atenção. Como somos uma publicação com foco no turismo LGBT+, ficamos curiosos para saber como é a vida LGBT+ nesses países sob a ótica de quem mora em um deles.

Em uma entrevista surpreendente com a ViaG,  Giovanni nos contou como é ser um LGBT+ no Líbano e como o país tem evoluído nas questões de direitos da nossa comunidade. Confira!

LGBT Líbano
Giovanni M. M. Hojeije na vila de Faraya, na província de Monte Líbano

ViaG: Como você foi morar no Líbano?

Eu tenho uma descendência bem variada. Meu avô imigrou do Líbano para o Brasil em 1953, e minha família ainda tem bastante contato com o país e cultura Libanesa, e com isso somos também cidadãos, então a mudança foi relativamente fácil;

ViaG: O que você faz aí hoje, trabalha, estuda?

Eu estava trabalhando na Blue Shield, uma empresa com sede na Europa, mas que tem ramificações no Líbano e se preocupa com a preservação da herança tanto Europeia como Levantina (Templos Greco-Romano-Fenícios, Igrejas e Mesquitas Bizantinas e galerias, bibliotecas e palácios de vários períodos);

Além disso, eu estudo Ciências Políticas e História da Arte na American University of Beirut (Universidade Americana de Beirute), é uma universidade bem forte com a educação no sistema Americano e parcerias com as Ivy League (Harvard, Columbia e Yale) e outras como Standford. A minha vida no momento revolve bastante em torno do mundo acadêmico.

ViaG: Como é essa questão LGBT+ dentro das universidades?

Aqui as universidades são um oasis (acredito que na maioria dos lugares), elas garantem liberdade de expressão e promovem o secularismo, além de proteger as minorias (LGBTQ, mulheres, outras etnias). A universidade que estudo participa do Title IX, um sistema que, entre outras coisas, proíbe comportamento sexista, homofóbico e racista, e promove reeducação obrigatória nesses assuntos aos alunos para que eles possam ingressar na universidade.

ViaG: Como é ser um LGBT+ no Líbano?

Assim como no Brasil, essa é uma questão que varia muito com a experiência de cada um, classe social e afins. Eu, morando na capital, Beirute, sendo um estudante universitário e de classe média, até o momento nunca tive problemas. Com certeza o interior não tem a mesma perspectiva que a capital ou outras grandes cidades. Quase ninguém sabe disso, mas por menor que fosse, Beirute já teve duas paradas LGBT+, foram as primeiras do mundo Árabe. Há também organizações que vem trabalhando por direitos LGBT+, a maioria ganhou bastante força com as redes sociais e vem atuando mais nos últimos 20 anos.

ViaG: Você sabe dizer como é a questão legal no Líbano?

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No que diz respeito aos LGBT+, a questão legal no Líbano é importada das leis coloniais Francesas, o que choca muitas pessoas. A homossexualidade em si não é mencionada, porém “práticas sexuais não naturais” podem ser condenadas, e como os Franceses costumavam condenar LGBT+ também, a prática acabou sendo importada. Mas, isso vai muito da índole e do ponto de vista do juiz (a) que estiver decidindo o caso.

Porém, é importante mencionar que, nos dias de hoje, é quase inexistente casos de pessoas serem condenadas por serem LGBT+. Acredito que nos últimos 20 anos aconteceram 3 vezes (não tenho certeza). A verdade é que um movimento inverso vem avançando. Partidos como o Kataeb, organizações como Halem, bem como juízes e a sociedade psiquiátrica do Líbano se unindo em prol da remoção do artigo 534 do código penal Libanês (o qual proíbe atos sexuais que contradizem o natural).

Já para pessoas trans a situação é um pouco diferente. A cirurgia de ressignificação sexual é legal, e uma vez que uma pessoa se declara trans ela não sofre com o artigo penal mencionado.

ViaG: Como é a cena LGBT + aí? Existem bares, baladas, saunas e estabelecimentos para a nossa comunidade?

Sim, a cena LGBT+ é vibrante. Bairros conhecidos no centro como Gemmayzeh e Mar Mikhail (muito destruídos após a explosão de 4 de agosto) costumam abraçar a comunidade. A comunidade gay usa apps como Tinder e Grindr, frequenta shows de drag (inclusive no meu primeiro semestre aqui eu fui em um show da Sasha Velour, vencedora da 9 temporada de RuPaul’s Drag Race), existem bares, baladas, e cafés nos quais a comunidade se reúne, são espaços seguros em que a gente pode conversar, dançar, rir etc.

LGBT mundo árabe
Plastik, famosa exposição de arte que inclui questões LGBT+

ViaG: Você já foi discriminado ou presenciou alguma cena de LGBTfobia?

Eu não, e alguns amigos próximos também não, porem nós moramos no centro da cidade, uma área com bastante turistas, e os Libaneses no geral viajam muito, especialmente pra França, pais a qual cultura nós importamos bastante, e muitos de Beirute já tiveram contato com a cultura ocidental, o que abre portas para o diálogo.

ViaG: E para turistas LGBT+, o Líbano é um local seguro?

Sim e não. Se o turista se manter nas grandes cidades e rotas tradicionalmente turísticos e não participar em demonstração de afeto em público, eu acredito que sim. Mas demonstrações públicas de afeto podem ser rejeitadas em outros lugares – acredito que o país em si não impõe a lei sobre LGBT+, digo rejeitado pelas pessoas.

ViaG: O que você recomendaria fazer aí?

Eu, como estudante de história sou apaixonado pela região. Acredito que o centro histórico de Beirute, as áreas do porto, e restaurantes daqui são maravilhosos, incrustados com ruínas e traços de períodos muito diferentes, Romanas, Gregas, Fenícias, Egípcias, Persas, Otomanas/Bizantinas. Igrejas, mesquitas e até sinagogas históricas, museus, galerias, bibliotecas.

Fora de Beirute, eu indico as cidades Fenícias de Byblos, Batroun, Tiro e Sidon, elas são maravilhosas. Todas banhadas pelo mar Mediterrâneo, com o clima maravilhoso e água cristalina na costa rochosa, também todas cheias de templos, cidadelas, e pra quem é religioso as áreas descritas na bíblia como o casamento em Qana (no qual Jesus Cristo supostamente transformou água em vinho) na Galileia.

A cidade Romana de Heliópolis, ou Baalbek é algo que todos devem ver aqui, é o maior complexo de templos Romanos no mundo, e Tiro, a cidade que eu mencionei anteriormente, foi construída por Alexandre o Grande, e Byblos tem mais de 7.000 anos.

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Baalbek é o maior complexo de templos Romanos do mundo

Para diversão, além das praias, temos grandes baladas e bares que todos os LGBT+ locais já frequentam, como Bardo, Posh, Projekt e Madame Om. Ocasionalmente tem shows de Drag também espalhados pela cidade, festivais de música eletrônica como Tomorrowland, as conhecidas pool parties, e a famosa Plastik magazine, além de outras galerias tambem promovem eventos e críticas sociais que abraçam a comunidade LGBT+.

Tem os gay friendly cafés também, como o Café Younes, um bar meio boêmio. Indico também o Luna’s Kitchen, que é uma delícia e 100% vegano. Já o Cloud 95 é um bar para lésbicas em Tiro. Tem também o B010 (que não é em si uma balada gay, mas sim gay friendly). Outra recomendação é o Halem community center, para eventos gerais. E lógico, não posso deixar de falar da nossa Pride Parede que aconteceu em 2017 até 2019. Infelizmente ela foi cancelada em 2020 por causa da pandemia.

As saunas eu não frequento, mas tem bastante também.  Sauna é um aspecto grande da cultura mediterrânea desde o império romano, como o Shahrazad Hamman (famoso por ser um centro de “cruising”) e Al Bakawat Hammam.

Em Beirute, os bairros que eu recomendo são Hamra (o meu bairro, que é bem gay friendly, mas sou suspeito a falar), Mar Mikhail, Achrafieh, Gemmayzeh, Burj Hammoud (quarteirão Armenio), e a Zaytounay Bay Area/Rauche. E para quem não gosta do calor, os resorts de ski no norte do país funcionam de dezembro a fevereiro, com bastante neve no período do Natal e ano novo, e ficam a uma hora de Beirute.

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Escrito por redacao