A diversidade LGBT+ na comunicação através da representatividade veio à tona novamente por conta das polêmicas atuais causadas pelas campanhas da Natura e Casas Bahia.
Para celebrar o Dia do Pais, a Natura, uma das gigantes mundiais do setor de cosméticos e perfumaria contratou Tammy Miranda para divulgar em suas redes sociais o perfume masculino promovido para a data especial. Mesmo sem ter sua imagem no comercial, Tammy foi alvo de uma enxurrada de ofensas nas redes sociais. Já a Natura teve que lidar com chamadas de boicote feitas por religiosos e membros da comunidade cristã.
As Casas Bahia teve que enfrentar as críticas vindas da própria comunidade LGBTI+. Acusada de querer explorar o “Pink Money” por alguns militantes, o comercial de lançamento de sua nova marca trouxe no vídeo um casal gay, uma pessoa trans e um casal de lésbica.
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Apesar dos dois casos chamarem bastante atenção, a diversidade LGBT+ na comunicação é algo muito raro e ainda tem um longo caminho pela frente.
A última edição do Cannes Lions, o mais importante festival da publicidade mundial, serviu de estudo que revelou a falta de diversidade LGBT+ na comunicação. Uma pesquisa Bia & Inclusion in Adverstising foi produzida pela Geena Davis Institute on Gender in Media avaliou como as marcas trabalham em relação à orientação sexual, gênero, peso, pessoas com deficiência e idade.
O estudo avaliou todos os premiados no Cannes Lions entre 2006 e 2019. Apesar do pequeno avanço, a pesquisa detectou que ainda temos muito que progredir quando o assunto é representatividade e diversidade LGBT+ na comunicação.
A análise avaliou 251 anúncios da última premiação, realizada de maneira online em 2020, com os trabalhos dos anos anteriores. Foram analisadas peças nas categorias Film e Film Craft da Austrália, Canadá, Estados Unidos, Nova Zelândia e Reino Unido. O estudo mostrou que infelizmente o discurso é bom, mas a prática nem tanto.
Diversidade LGBT+ na comunicação
Apesar de serem praticamente 10% da população, LGBTI+ são praticamente inexistentes na comunicação. Mesmo com o avanço da discussão ao redor do tema, apenas 1,8% das campanhas apresentam personagens LGBTI+. O estudo ainda mostrou ainda que quando esses personagens são mostrados, raramente estão em situações de trabalho ou estudos, e quase sempre estão relacionados a atividades de lazer.
Outros temas abordados no estudo
Quando o assunto é gênero, o estudo avaliou que a evolução é quase nenhuma. Em 2019, homens eram 61,6% na campanhas e mulheres apenas 38,4%. O estudo ainda mostrou que homens ficaram com duas vezes mais tempo na tela do que as mulheres. O mesmo aconteceu quando o foco era a fala nos comerciais. Além disso, personagens femininos são mais retratas com roupas reveladores e objetificadas, tanto visualmente quanto verbalmente, do que personagens masculinos.
15% da população mundial, as pessoas com deficiência física ou cognitiva são apenas 2,2% dos personagens vistos nos anúncios de 2019. O estudo ainda revelou que essas pessoas são geralmente apresentadas como tendo mais capacitadas intelectualmente e mais associadas as práticas esportivas.
O Estudo sobre a diversidade na comunicação levantou também que pessoas com corpos grandes e gordos são apenas 7,2% dos personagens dos anúncios. O pior é que elas geralmente são retratadas como preguiçosas e até mesmo estupidas com relação aos personagens magros. Suas imagens também estão ligadas as situações cômicas.
Sobre pessoas com mais de 60 anos, a pesquisa revelou que nas campanhas de 2019 apenas 7% dos personagens faziam parte desse grupo, apesar de serem 19% da população mundial. Esses personagens são vistos como lideres em situação de trabalho, enquanto os mais jovens são mais representados em atividades esportivas.
O único grupo que conseguiu ter um avanço foi o de personagens negros. O estudo mostrou que essas personagens passaram de 25,9% em 2006 para 38% em 2019. Porém, alguns estigmas persistem. Os negros são geralmente retratos em ambientes esportivos, enquanto os brancos são geralmente retratados em locais de trabalho e em posição de liderança.