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Confira a entrevista babadeiríssima de Mauro Sousa para a ViaG

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Foto: Diego Siliprando
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Ele é diretor e produtor geral da Maurício de Sousa Produções, mas o melhor cargo de Mauro Sousa é na vida. Filho de Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica, ele ganhou do pai o personagem Nimbus. Abertamente gay, Mauro usa a exposição na mídia e sua função na empresa para, entre posts e projetos, levantar e debater questões do universo LGBT+ e demais aspectos da diversidade. Mauro Sousa recebeu a Revista ViaG na MSP e, em um divertido bate-papo, falou sobre sexualidade, família, viagens e planos para o futuro.

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Mauro com Nimbus no colo, o personagem da Turma da Mônica inspirado nele. Foto: Diego Siliprando

Quem é Mauro Sousa?
Mauro Sousa são várias pessoas. Eu sou uma em casa, uma no trabalho, uma com a minha família, uma com o Rafa [marido], uma com meus amigos. Mas, claro, todas com a mesma essência, valores e princípios. Como são ensinamentos dos meus pais, todos têm como base o amor, a amizade, a união e o respeito às diferenças.

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Todos os filhos do Maurício de Sousa têm um personagem na Turma da Mônica. Qual é o seu e qual é a personalidade dele?
O meu é o Nimbus, que foi inspirado em mim quando eu tinha mais ou menos uns 7 anos. Ele nasceu em 1993/1994 e a característica principal dele é que ele tem muito medo de chuva, assim como eu nessa idade. Foi um trauma: estávamos no sítio e começou uma tempestade que mais parecia um furacão. Meu pai começou a gritar por todos os cantos da casa “Fechem as portas! Fechem as janelas! Escondam as crianças!” e aquilo me assustou para sempre. Desde então eu passei a ter pavor de chuva. Eu assistia mais a canais de meteorologia do que desenhos animados. Meu sonho nessa época era ser o David Copperfield, aquele mágico, e ilusionista. Eu fazia cursos e o Nimbus também tem um pouco disso, faz umas mágicas ou outra nos gibis.

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Mauro Sousa, o marido, Rafael Piccin e Chinelo, o filhote do casal. Foto: Arquivo Pessoal

Você é um militante da causa LGBT+. Isso se deu por uma pressão da comunidade após seu outing ou você mesmo sentiu essa necessidade?
Foi um movimento natural. Tudo começou depois que meu pai postou uma foto minha com o Rafael e escreveu que o Rafa era meu marido. Ele adora tirar fotos, adora o Instagram e pediu para minha mãe tirar uma foto daquele momento. Perguntou pra mim e pro Rafa se ele poderia postar a foto, a gente disse que sim, e ele postou. Simples assim. Claro que, naquela hora, eu e o Rafa achamos que a foto ia repercutir, mas não imaginamos que fosse tanto. Eu comecei a receber vários comentários e isso mexeu comigo. Os negativos me motivaram a responder, me posicionar, ainda mais porque eu nunca fui de baixar a cabeça. Os positivos, que foram muito mais numerosos, eram mensagens lindas que me levaram a escrever e continuar inspirando mais pessoas. Toda essa repercussão fez com que eu visse, de fato, como essa questão é importante de ser levantada. Eu tenho consciência que minha família é diferente. Eu tenho um pai que é muito famoso e, por conta disso, eu também passei a ficar conhecido. Então decidi usar isso a meu favor e a favor da causa LGBT+.

No musical da turma, o “Brasilis”, a diversidade brasileira é explorada. A ideia veio de você, que dirige o espetáculo, ou já é algo que está no DNA da marca?
Ela vem sendo inserida no DNA da marca. Há algum tempo a Maurício de Sousa Produções trabalha a questão da diversidade e o Brasilis é uma consequência desse esforço. Também estamos construindo nosso próprio comitê de diversidade, para se aprofundar cada vez mais esse assunto e fazer com que isso reflita em toda a MSP. O objetivo é não só ter um posicionamento da porta pra fora, mas, principalmente, da porta pra dentro: todos os funcionários precisam entender a importância de termos a diversidade como ferramenta importante de nossos projetos.

A Turma da Mônica vai ter um personagem LGBT+? Se sim, você já sabe dizer quando?
Minha resposta é sim. Digo que chegará o momento de ter esse personagem, ao mesmo tempo em que falo que ele já está na turma. Porque não é preciso rótulo, basta existir. Por volta dos meus 7 anos, eu já era gay mas não me rotulava, nem tinha essa consciência, mas já estava ali. Eu nasci gay. Não consigo te dizer quando, mas estamos em processo de construção desse personagem, qual será a história, se vai ser em gibi, filme, desenho, graphic novel*… Enfim, estamos decidindo a melhor estratégia. É preciso fazer tudo com muita responsabilidade e não há como falar de diversidade sem ter um LGBT+. Eu acredito muito nisso. Ah, a gente acabou de lançar a graphic novel da Tina, que já traz nossa primeira personagem abertamente lésbica, a Cátia, amiga dela. Já é uma primeira grande conquista.
* A graphic novel é feita de histórias criadas por outros autores com os personagens do universo Maurício de Sousa. Não são de autoria dele, mas são projetos avaliados, autorizados e produzidos pela MSP.

Mauro Sousa
Aquela carinha de “o que será que vem por aí?” Foto: Diego Siliprando

Você já declarou em entrevistas que não houve drama ao abrir sua sexualidade para sua família. Mesmo conhecendo-os, do que você teve medo?
Tive medo de rejeição, de ouvir frases como “eu não quero mais você”, “vai embora”, “você não é mais meu filho”. Eu tinha 18 anos. Foi minha mãe que, ao me encontrar muito triste e chorando [por causa de uma briga com um ex], perguntou o que estava acontecendo. E eu dizia “mãe, eu não consigo falar, não consigo falar”. Ela dizia “consegue, consegue”, e ficou “puxando” até que ela mesma disse: “Mauro, eu sei que você namora o fulano, que você é gay, e eu quero que você seja muito feliz, que traga ele pra cá, quero conhecê-lo, quero te ajudar”. Muito maravilhosa! Eu sempre achei que eu ia contar e ela iria chorar, mas foi exatamente o contrário. Ela ficou firme e eu em prantos.

E ao ver que foi o contrário? O que você sentiu?
Alívio, libertação, um peso que saiu das minhas costas. Foi o dia mais feliz da minha vida.

Que mensagem você dá para os filhos que não têm o apoio da família em relação à orientação sexual?
Cada um é único com sua própria família e realidade, mas eu sou sempre a favor de procurar ajuda. Seja ela pessoal, como a de um amigo, ou profissional com apoio de um psicólogo. Eu acho importante falar que essa pessoa é linda do jeito dela. Não existe certo ou errado, bonito ou feio. O importante é acreditar nisso e se amar como é.

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Mauro Sousa em viagens em família. “Sempre entram na lista das favoritas “. Foto: Arquivo Pessoal

Falando de viagens: qual foi o destino que você mais gostou e por quê?
Primeiro eu vou responder que os destinos que eu mais gosto de ir são os que eu estou acompanhado do Rafa, ele é uma ótima companhia. Toda vez que eu viajo com ele, não importa pra onde, é sempre uma ótima viagem. Agora, de todas as que fizemos eu destacaria África do Sul, que teve safári e a vibe foi lua de mel, tudo muito especial. Outra que fizemos em família para a Itália, com meus pais e minha sogra, marcou o primeiro convívio 24 horas de todos em uma viagem internacional. É aí que você vê se vai rolar, e rolou! Foi muito legal!

Qual lugar você tem vontade de conhecer?
Eu queria conhecer mais o Brasil, como Fernando de Noronha por exemplo, e mais do próprio Nordeste. E também a parte norte da Europa, países nórdicos, que eu não conheço. Porque eu sou assim: ou eu quero passar muito frio ou muito calor.

Mauro Sousa
“Os destinos que eu mais gosto de ir são os que eu estou acompanhado do Rafa.” Foto: Arquivo Pessoal

Qual foi a situação mais inusitada que você passou com seu namorado durante uma viagem?
No Japão existem umas piscinas naturais vulcânicas, chamadas de onsen, e tem todo um ritual antes de entrar nelas, tomar banho, se purificar. E, aí, você entra pelado. Eu e o Rafa estávamos peladões entrando na água, quando a gente viu um cara muito gato do outro lado da piscina. A gente tomando aquela reza, com toda aquela vibe e não conseguíamos nos concentrar. O cara ficou super sério, levantou e passou nuzão na nossa frente e a gente “rachou o bico”. E eu fiquei falando que não era esse o intuito, que era algo para se limpar, mas o efeito foi contrário. Foi muito engraçado!

Você costuma buscar por roteiros LGBT+ durante suas viagens?
Esse não é meu foco. Mas, dependendo do lugar, eu busco por points, baladas LGBT+, que tenham essa receptividade diferente. LGBT+ mesmo porque eu não finjo que eu e o Rafa somos apenas amigos, quero ir para um destino em que a gente possa ser um casal e seja bem recebido. Eu trabalho para viajar, então pra mim é uma coisa muito sagrada.

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Escrito por redacao