Pensar uma exposição de arte demanda um processo minucioso, que vai da definição de um conceito à seleção de artistas e à estruturação do evento. No entanto, quando se trata de iniciativas que fogem do eixo hegemônico do mercado da arte, esse caminho se torna ainda mais desafiador. A mostra Indomináveis Presenças, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (CCBB-SP), se destaca não apenas por seu impacto estético e conceitual, mas também por ser um marco na ocupação de espaços institucionais por artistas e curadorias decoloniais.

Realizada pela AfrontArt – Quilombo Digital de Arte e com curadoria de Luana Kayodè e Cíntia Guedes, a exposição traz 114 obras de 21 artistas negros, indígenas e LGBTQIAPN+ de diversas partes do Brasil. Seu objetivo é ampliar as narrativas que compõem o circuito artístico nacional, contestando estruturas historicamente excludentes e criando novas imagens sobre corpos racializados, originários e dissidentes. “A gente traz a Indomináveis Presenças com o intuito de celebrar essas existências para além da violência, escassez e miséria que muitas vezes nos são impostas. Nossa proposta é uma celebração contestatória, onde o amor, a família, a alegria e a liberdade são centrais”, explica Luana Kayodè.

A presença de artistas negros, indígenas e LGBTQIAPN+ em grandes espaços de arte não se resume apenas à representatividade, mas impacta diretamente na reconfiguração do mercado e na democratização do acesso à cultura. Apesar do discurso crescente sobre diversidade, o sistema das artes ainda favorece grupos que já possuem validação dentro do meio.
Curadorias, exposições e mercados continuam sendo dominados por agentes com longa trajetória, cujas visões não acompanham as mudanças sociais ou, em alguns casos, se apropriam dos movimentos identitários. Isso resulta na perpetuação de perfis artísticos vinculados a circuitos tradicionais da arte contemporânea, frequentemente associados a uma herança colonial e branca.
Segundo Cíntia Guedes, a dificuldade em acessar espaços institucionais vai além da estética e da qualidade técnica das obras. “A gente esbarra em uma burocracia que é feita para quem já está consolidado no sistema das artes. Nosso trabalho vai além de uma exposição, pois buscamos abrir caminhos e redesenhar esse mercado para que as artes negras e indígenas possam existir de forma plena”.
A seleção dos artistas para Indomináveis Presenças foi resultado de muitas pesquisas e mapeamento, com visitas a ateliês e conversas aprofundadas para garantir um diálogo real entre as obras e a proposta curatorial. O resultado é uma mostra que não apenas traz pluralidade de estilos e técnicas — como gravura, fotografia, pintura, escultura, performance e inteligência artificial —, mas que também afirma a urgência de novos olhares e espaços para a arte contemporânea.
Ao ocupar um espaço como o CCBB-SP, Indomináveis Presenças não apenas questiona a hegemonia dos grandes circuitos de arte, mas também propõe novas formas de pensar, produzir e consumir arte no Brasil. Esse movimento desafia o modelo tradicional de validação artística e abre caminhos para um sistema mais plural e acessível.
A mostra se torna, assim, um modelo de referência para iniciativas futuras que busquem não apenas representatividade, mas uma real transformação das estruturas que definem o que é visto, consumido e valorizado na arte brasileira.
Sobre a AfrontArt
A AfrontArt é uma empresa baiana de impacto social e inovação voltada ao fomento às artes visuais preta e brasileira, que desde 2020 vem construindo um espaço de referência para os artistas e profissionais afrodescendentes e originários, no que tange a circulação e venda de obras, criação, curadoria, qualificação profissional e fortalecimento da comunidade. Ela tem como objetivo articular e fomentar a cadeia produtiva das artes visuais negra e indígena brasileiras a partir de ações estratégicas para a gestão da criação, produção e monetização. Realizou projetos em parceria com a Prefeitura de Salvador como o “Festival Salvador Capital Afro”, Metrô de São Paulo com as exposições “Qual o Pente que te Penteia” de Juh Almeida e “Zamba” de Bruno Zambelli, e com o Centro Cultural Banco do Brasil com a exposição “Indomináveis Presenças”. Neste ano, a empresa também realizou em Salvador a primeira edição da AFRO-ART, uma feira destinada às artes negras e indígenas contemporâneas do Brasil.
Serviço:
EXPOSIÇÃO “Indomináveis Presenças”
Data: de 05 de fevereiro a 07 de abril de 2025
Local: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 – Centro Histórico | São Paulo/SP
Anexo – Rua da Quitanda, 80
Entrada gratuita
Ingressos: Retirada de ingressos em bb.com.br/cultura e na bilheteria do CCBB
Classificação Livre
Funcionamento: Aberto todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças
Contato: (11) 4297-0600 | ccbbsp@bb.com.br
Estacionamento: O CCBB possui estacionamento conveniado na Rua da Consolação, 228 (R$ 14 pelo período de 6 horas – necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB). O traslado é gratuito para o trajeto de ida e volta ao estacionamento e funciona das 12h às 21h.
Van: Ida e volta gratuita, saindo da Rua da Consolação, 228. No trajeto de volta, há também uma parada no metrô República. Das 12h às 21h.
Transporte público: O CCBB fica a 5 minutos da estação São Bento do Metrô. Pesquise linhas de ônibus com embarque e desembarque nas Ruas Líbero Badaró e Boa Vista.
Táxi ou Aplicativo: Desembarque na Praça do Patriarca e siga a pé pela Rua da Quitanda até o CCBB (200 m).