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Apenas 11% dos LGBTQIA+ brasileiros acham positivo revelar a sexualidade no trabalho
O estudo Why the First Year Matters for LGTBQ+ Employees, do Boston Consulting Group (BCG), mostra que o Brasil tem um longo caminho a percorrer na conscientização sobre diversidade e inclusão no ambiente corporativo. Aproximadamente 77% dos funcionários brasileiros que se identificam como LGBTQIA+ afirmam já terem sofrido algum tipo de discriminação no trabalho – globalmente, a média foi de 58%.
Apenas 11% dos brasileiros LGBTQIA+ acreditam que revelar a própria sexualidade no trabalho é algo positivo, enquanto 29% acham que isso pode prejudicar suas carreiras. A taxa varia bastante de país para país. Na Austrália, por exemplo, 50% veem revelar a sexualidade como vantagem, bem como 43% dos entrevistados nos Estados Unidos. No sentido contrário, 40% dos mexicanos e 36% dos franceses afirmam ser uma desvantagem para a carreira. A média global foi de 23% enxergando a questão como positiva e 24% como negativa.
O ambiente corporativo é também onde os respondentes menos revelam sua sexualidade. No Brasil, 99% já a revelaram para os seus amigos, 90% para a família, 87% para colegas e apenas 49% para os seus clientes. A título de comparação, funcionários de Austrália, Holanda e Estados Unidos revelam mais a sexualidade para os clientes, variando de 65% a 75%, enquanto a média global é mais retraída, de 45%.
A pesquisa também evidencia os desafios profissionais de outros grupos minoritários: 74% das pessoas trans e não-binárias relataram casos de discriminação no ambiente de trabalho, contra 57% das mulheres LGBTQIA+. Elas, por sua vez, relataram uma incidência 13% maior de assédio sexual em relação aos colegas que se identificam como homens.
O primeiro ano é essencial para incluir um funcionário LGBTQIA+
Segundo o BCG, o primeiro ano de um funcionário LGBTQIA+ em uma empresa é fundamental para ele revelar sua sexualidade – ou não – e se sentir mais confortável no emprego. Aproximadamente 70% dos entrevistados afirmam ter revelado sua sexualidade já no processo seletivo ou nos primeiros 12 meses de trabalho e 10% a revelaram após o primeiro ano. Os 20% restantes continuaram sem revelar sua sexualidade mesmo após um ano de empresa, o que segundo o estudo reforça a urgência de implementar culturas corporativas inclusivas desde o primeiro dia para todos os funcionários.
Garantir um ambiente corporativo confortável para funcionários LGBTQIA+ serem quem realmente são não é uma tarefa simples, ou seja, lançar iniciativas de diversidade e inclusão não é o suficiente. Em vez disso, o estudo indica que as empresas devem desenvolver um plano holístico para garantir que todas as fases da jornada do funcionário, principalmente durante o primeiro ano, reflitam e sejam moldadas por uma cultura diversa, justa e inclusiva. São cinco as ações recomendadas:
• Construir a fundação. Empresas devem se certificar de que as políticas de recursos humanos e a infraestrutura correta de apoio à diversidade estejam em vigor e sejam comunicadas claramente aos funcionários.
• Recrutamento. As organizações devem construir uma força de trabalho verdadeiramente diversa a partir do recrutamento, com uma divulgação direcionada aos candidatos LGBTQIA+ e garantindo suporte total durante o processo seletivo.
• Integração. É preciso conectar os funcionários LGBTQIA+ a mentores para ajudá-los em suas carreiras e com possíveis preocupações ou problemas em sua trajetória na empresa.
• Ambiente de trabalho no dia a dia. A empresa precisa desenvolver uma cultura de respeito e inclusão com um programa estruturado para oferecer, entre outras coisas, treinamento de sensibilização sobre diversidade, equidade e inclusão.
• Engajamento contínuo. É preciso contar com um vocabulário inclusivo para o grupo LGBTQIA+ e contar com eventos de apoio e celebrações que reconhecem o movimento e os direitos desses indivíduos.
“Todas as fases da jornada do funcionário devem ser pensadas e repensadas para promover diversidade, equidade e inclusão. As pessoas LGBTQIA+ que se sentem livres para serem elas mesmas têm mais autonomia no trabalho, se sentem mais à vontade para falar abertamente e construir amizades mais fortes e duradouras na empresa. Isso, por sua vez, torna as equipes muito mais produtivas e ainda reduz a rotatividade de colaboradores”, comenta Juliana Abreu, diretora-executiva e sócia do BCG no Brasil.
O BCG consultou, entre junho a dezembro de 2020, cerca de 8.800 pessoas em 19 países. Cerca de 61% dos entrevistados se identificam como LGBTQIA+, 36% como mulheres, 8% como transexuais ou não-binários, 88% têm entre 18 a 44 anos de idade e 68% estão empregados. A amostra não foi direcionada para representar a população geral dos países ou dos setores das empresas, mas, sim, de pessoas que estão em um contexto corporativos e com níveis de educação relativamente altos. Os respondentes tendiam a trabalhar em empresas com práticas mais avançadas de diversidade e inclusão.