Vivendo seu melhor momento, tanto na economia como no turismo, nossa vizinha Colômbia esbanja alegria e autoestima. Seu passado recente de guerrilhas, mortes, e crimes oriundos do narcotráfico, nem de longe se parece com o país vibrante e colorido que encontraremos nesse texto. Desde que as questões de segurança se resolveram por lá, o país tem tido suas maravilhas descobertas – e não só pelos turistas que chegam aos milhões todos os anos, mas principalmente pelos próprios colombianos, que pouco podiam desfrutar de suas riquezas turísticas e culturais.
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Acompanhando a vanguarda global, o turismo oficial da Colômbia tem apostado fortemente no segmento LGBT+. Como, por exemplo, ações coordenadas pela jovem e dinâmica Câmara de Comercio LGBT da Colômbia (CCLGBTCO) que, dentre os seus principais atos, é um grande evento anual chamado We Trade. Este, por sua vez, reúne grandes marcas e especialistas do segmento LGBT+ em dois dias de atividades em Bogotá. A força desse trabalho, aliás, gerou frutos e foi também abraçado pela ProColombia, órgão oficial de turismo do país que tem ativado o destino como LGBT friendly em grandes eventos internacionais, como a Feira Internacional de Turismo de Madrid. O segmento é levado tão a sério que o governo federal contratou uma consultoria internacional, onde foi possível pesquisar o perfil de seus principais turistas, de diferentes nacionalidades, e, a partir daí, desejar uma estratégia de atuação para atrair ainda mais visitantes da comunidade.
E os números extremamente positivos não estão sendo difíceis de serem alcançados. O resultado, assim, é fruto da junção desse forte trabalho profissional para atrair turistas e os avanços com passos sólidos em relação os direitos de seus cidadãos LGBT. Além disso, o destino por si só possui uma farta oferta de atrações para esse segmento.
Bogotá
Em nossa visita, começamos por Bogotá. Como qualquer grande metrópole, a cidade nos recebe com trânsito pesado, mas com uma energia única. Com uma rede hoteleira bem equipada, a cidade esnoba hotéis com selos LGBT+ Friendly. Para os mais afortunados, o novíssimo e chique Grand Hyatt dispensa apresentações. Já o W Hotel, com seu estilo contemporâneo mundialmente conhecido, é ideal para os moderninhos e descolados. Para os que buscam um ambiente mais romântico e com boa relação custo benefício a dica é Hamilton Bogotá Hotel.
Devidamente instalado, é hora de descobrir o destino. Comece passeando pela La Candelaria, o bairro mais antigo da cidade. É nesse local onde ela nasceu, mais exatamente na Plaza Bolivar, em que ficam os imponentes prédios sede do governo federal e também a casa oficial da Presidência da República. Aliás, local de várias funções, a Plaza Bolivar já foi palco de mercado de camponeses, pelourinho dos espanhóis, espaço para touradas e até palco para fuzilamentos. Foi ali, também, que uma multidão celebrou a chegada de Simón Bolivar, após conquistar a independência da Colômbia em 1819. Pelas ruas estreitas, ideal para explorar a pé, hoje identificamos a recente força econômica colombiana, mesclada entre lindos casarões coloniais e os robustos edifícios modernos que abrigam grandes multinacionais.
Enquanto estiver pelo bairro, não deixe de visitar também a singela Igreja da Candelária de 1686, a pitoresca basílica de Nossa Senhora do Carmo – que ganha destaque por suas cores vermelha e branca –, e também o Museu de Botero, que contém cerca de 120 obras do mundialmente famoso artista colombiano. É na candelária, também, que se encontra o impressionante Museu do Ouro. Reserve algumas horas para conhecer essa pérola da cultura sul-americana. O museu, ademais, está classificado entre os mais importantes do mundo sobre o seu tema, e a visita nos contempla com toda a história do ouro e sua importância. São 150 mil peças expostas, incluindo o emblemático La Barca, uma rara joia pré-colombiana que retrata a habilidade dos nativos em manusear o metal precioso. Além disso, aproveite que está no centro histórico e almoce no Casa Vieja. Um charmoso restaurante localizado em um antigo casarão colonial. As delicias típicas da Colômbia servidas por lá vão deixar saudade.
Outro passeio muito disputado em Bogotá é o do Cerro de Monserrate. Localizado a mais de três mil metros de altura sobre o nível do mar, o lugar é além de um dos pontos turísticos mais famosos, um ponto de peregrinação. No topo do morro está a histórica Basílica Santuário del Señor Caido, de Monserrate, construída em 1640. Por fazer parte da Cordilheira Oriental da Cordilheira dos Andes, do Cerro Monserrate é possível ter uma vista completa de Bogotá e entender sua disposição cravada entre as montanhas.
Quando a noite cai, Bogotá também não decepciona. A vibração aumenta e o colombiano faz jus a sua fama festeira. A cidade, conhecida por ter uma das noites mais agitadas do mundo, abriga milhares de bares e casas noturnas. No bairro Chapinero, o mais boêmio deles, é que se concentra o ápice da vida noturna. É lá que também se depara a maior concentração de estabelecimentos LGBT+ do país, e porque não da America Latina? São mais de 80, número que rendeu ao bairro o apelido de Chapingay. Tem espaço para todas as letras, cores, estilos e idades. A diversão é garantida no kit e minúsculo karaokê El Pero y La Calandra, em estilo “música de planchar” – em livre tradução: música de dor de cotovelo. Já no Video Club, a pegada é mais moderninha e contemporânea.
Mas o grande ícone da noite LGBT+ de Bogotá é, sem dúvidas, o legendário Theatron. Aberto desde 2002, a casa pode ser considerada a maior do mundo. São 14 ambientes diferentes, espalhados em quatro andares que, em dias de lotação máxima, chega a receber até sete mil pessoas. Pelas pick ups, grandes nomes da noite mundial já passaram por lá. A estrutura, aliás, é excelente, e as produções das festas são hollywoodianas. Na pista principal fica no grande anfiteatro da casa, característica que dá o nome do local. Shows de Drags impressionam pelo profissionalismo e beleza. Prepare-se para ficar até o amanhecer o dia. As festas são tão boas que você nem vai sentir a noite passar.
Mas, se você quiser realmente entrar de cabeça, e conhecer com força a alegria colombiana, guarde energias para uma aula de Salsa no Sin Visa. A escola é comandada por jovens campeões internacionais de dança latina. Em suas aulas preparadas para turistas, fica fácil entender porque a Colômbia é conhecida como o país dos mil ritmos.
Cartagena
Deixamos para traz a badalação da grande metrópole colombiana para mergulharmos de cabeça na capital colonial do país. A cidade velha de Cartagena é um Patrimônio Mundial da Unesco, um labirinto de vielas de paralelepípedos e edifícios coloridos de estilo colonial. Há também uma pequena cena gay que vale a pena conferir. Banhada pelo mar do Caribe, Cartagena das Índias (ou apenas Cartagena) conserva, como poucas no mundo, todo o charme da arquitetura colonial, protegida dentro da cidade amuralhada – a grande atração local.
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Fundada em 1533, Cartagena nasceu para ser o principal porto de envio de ouro para a Espanha. Sua localização estratégica, com baias de águas calmas, era propícia para o descanso dos navios, fato também que explica sua cidade muralhada e seus imponentes fortes de proteção. Era frequente, naquela época, invasão de piratas e inimigos da corte espanhola na tentativa de tomar a cidade. Hoje a invasão continua, mas ao invés de piratas, são turistas que chegam o ano todo. A cidade recebe boa parte dos quatro milhões que visitaram a Colômbia em 2018.
E é na cidade amuralhada onde se localiza a maioria dos hotéis e hostels, assim como restaurantes, museus e parques; as casas e suas fachadas coloridas são verdadeiras joias do estilo colonial. Um passeio por suas ruas é como uma viagem no tempo. É impossível, aliás, não se encantar com tamanha beleza. Atente-se também para a vida cultural da cidade: por toda parte é possível ver artistas locais expondo orgulhosamente as cores e ritmos da Colômbia. Sem falar das lindas e deliciosas frutas. A Colômbia é conhecida também como paraíso das frutas, muitas delas exóticas para os brasileiros. O que dizer do Zapote? Feio por fora e delicioso por dentro. É uma mistura de melão e manga, e dentro tem uma semente igual a da manga. Já o Coruba é conhecido como o “maracujá banana”, mas que mais parece um pepino.
Do lado de fora, um dos grandes destaques é o forte de San Felipe, construído em 1657 para proteger a cidade das investidas insistentes dos ingleses, bloqueando-a pelo lado do continente. O passeio inclui conhecer os túneis secretos que auxiliavam na hora de um eventual ataque surpresa. Contudo, é do lado de fora da cidade amuralhada que um movimento interessante e recente tem acontecido – mais especificamente no bairro de Getsemani. O lado considerado mais pobre, por estar fora das muralhas, tem recebido investimentos do setor privado, transformando, assim, suas casas e vilas em restaurantes de comidas típicas, lojas de artistas locais e pequenas pousadas. Por ainda ser praticamente habitado apenas por cartagineses, esse pedacinho da cidade guarda com toda força sua autenticidade, deixando o passeio ainda muito mais prazeroso.
Quem escolhe Cartagena como destino, todavia, precisa saber que a cidade não possui típicas praias caribenhas que povoam o imaginário dos turistas. Para isso, é preciso pegar um barco e visitar as ilhas próximas. Uma boa dica é a Isla Del Rosario. Com lindas praias escondidas, o pequeno paraíso ainda é casa do charmoso hotel San Pedro de Majagua. Mas isso não significa que o turista precise se hospedar lá para curtir as belezas do local. A sugestão é contratar o passeio completo, que começa com uma boa pedalada pelo interior da ilha, conhecendo o vilarejo dos nativos, e finalizando com canoagem pelos igarapés, mangues e lagoas, até desembocar no mar cristalino. Cenários paradisíacos e convidativos para um mergulho refrescante.
Já na vizinha Ilha Baru a tranquilidade é garantida pelo exclusivo e novo Hotel Las Isla. Construído para ser um refúgio de paz e contemplação, o luxuoso hotel possui quartos em estilo bangalôs de selva, com serviço cinco estrelas. Pequenas faixas de areia privadas esbanjam a beleza das águas azuis do Caribe. A noite em Cartagena, aliás, também impressiona. Restaurantes com chefs renomados combinam ingredientes importados com especiarias típicas, dando fama internacional a gastronomia local. A dica é o Restaurante Candé. Aconchegante, serviço friendly e impecável, drinks deliciosos e comida crioula saborosa. De quebra, a casa ainda oferece show de dança folclórica. É importante também fazer a reserva com um bom tempo de antecedência, pois o restaurante é muito disputado.
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Se a pegada é curtir a noite gay, temos uma notícia boa. Apesar de pequena, Cartagena possui alguns pontos de encontro da comunidade LGBT+. Não espere nada muito sofisticado, mas tenha certeza que a simpatia e disposição dos colombianos vão te fazer se sentir em casa. O mais famoso deles é o Le Petit. Como o nome já sugere, o local é um pequeno restaurante durante o dia, mas que se transforma na alegria dos gays à noite. Animação total ao som de Shakira, Maluma e afins. Os gigantes copos de cerveja batizado com rum dão o tom da noite. Do lado de fora da muralha, no Getsemani, fica o La Plancha. Recém-inaugurado, o point é perfeito para encontrar a comunidade LGBT+ local. A estrutura é simples, mas a música de planchar deixa tudo muito divertido. O Roma Club é a nova atração gay da cidade. Inaugurado no começo de 2018, o estabelecimento possui dois ambientes e agita seus visitantes ao som de muito pop latino. As festas têm ganhado fama e com certeza o Roma será uma daquelas baladas que atraem todos os tipos de público – desde que se respeite a diversidade para qual o clube nasceu.
Mas não pense você que a vida gay de Cartagena se limita aos bares e clubes. A diversidade está por toda parte. Pelas ruas cidade olhares mais atentos identificam facilmente pessoas LGBT+, que não sentem medo de expor o seu orgulho. Não tenha receio, jogue-se e se divirta. Deixe os ritmos te levarem como num irresistível bailado de Cumbia.
Medellín
Estamos agora na terra de Botero, o mais ilustre filho da segunda maior cidade colombiana. A Medellín de hoje, é importante ressaltar, nada se parece com a cidade violenta e dominada pelo narcotráfico dos anos 1980 e 1990. Moderna, inclusiva e colorida, a cidade pulsa criatividade embalada pelo sentimento de confraternização e segurança. Para chegar a este ponto, a cidade se reinventou e trouxe acesso à cultura e conhecimento aos menos favorecidos, apostou na educação de seus jovens e investiu em sistemas de integração que permitam que ricos e pobres possam conviver pacificamente nos vários ambientes da cidade. Prova disso são os teleféricos que ligam as favelas ao sistema de transporte público. A mais conhecida delas é a Comuna 13, hoje o ponto turístico mais visitado de Medellín.
Em 2012, a comunidade recebeu mais um reforço no seu processo de integração: mais de 300 metros de escada rolante foram construídos para ajudar no acesso as ladeiras do morro. Com ela, vieram mais turistas, residentes, investidores e projetos sociais que mudaram totalmente a vida de seus cidadãos. Grafites coloridos, entre casas e lojas, bem como cafés e bares descolados, retratam a vida cotidiana de seus habitantes. Mas todo esse processo começou lá atrás, quando, há 12 anos, a comunidade foi tomada pelas forças nacionais. E, com a ajuda dos moradores, cansados de sofrer, ajudaram a expulsar o narcotráfico da comunidade. Hoje a Comuna 13 serve de exemplo para o resto do mundo.
Para entender melhor como o município se transformou, a dica é fazer também um passeio pelo Museu Casa de la Memoria. Situado no coração da cidade, foi inaugurado em 2011 com objetivo de contar os horrores dos conflitos armados das forças que disputavam o controle de Medellín. Muitas histórias de mortes e desaparecimentos de civis inocentes na disputa entre a guerrilha e o narcotráfico. É, assim, um espaço necessário para que as futuras gerações nunca se esqueçam do quanto a paz e a liberdade são necessárias – e devem ser mantidas acima de tudo.
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Aproveite que você já está no centro e visite a Praça Botero. O espaço ao ar livre concentra o maior número de obras desse famoso artista, orgulho da Colômbia. Não há como não se encantar com suas obras arredondadas que lhe deram fama mundial. Na frente da praça também está outra atração, o Museu Antioquia. O principal destaque é também o grande acervo de pinturas de Fernando Botero: são 118 no total. Na mesma praça, outra atração chama atenção. Um prédio neogótico em branco e preto, onde está o Palácio da Cultura de Rafael Uribe, de 1925, abriga o arquivo histórico da cidade.
Se tiver tempo sobrando, suba as montanhas da cidade, até as fazendas de plantação de flores. Medellin é famosa também por essas belezuras que enfeitam nossas vidas. O destino tem até um evento anual em celebração aos Silleteros. O personagem é o símbolo do cultivo de flores. Todos os dias eles desciam as montanhas rumo à cidade, carregando nas costas uma espécie de cesto, repleto de vários tipos de flores que geralmente eram vendidas ou trocadas, garantindo a sobrevivência dos povos rurais da região.
Medellín é talvez hoje a cidade mais LGBT friendly da Colômbia. Muito moderna e diversificada em seus cidadãos. Entretanto, nem sempre foi assim. Por causa de suas fortes influências católicas, antes de 1981, a homossexualidade era considerada ilegal e punível com cinco a 15 anos de prisão. Houve até uma época em que grupos anti-gays achavam que a cidade precisava de “limpeza”. Felizmente, isso tudo é passado e Medellín hoje abraça a diversidade, tornando-se tolerante e receptiva à comunidade LGBT+. Um reflexo disso é a Parada LGBT, que acontece todo mês de junho e os inúmeros estabelecimentos friendly, como bares, restaurantes, cafés e lojas. Isso sem falar nos números de casos de homofobia que reduziram drasticamente de uns anos para cá.
O destino já está tão estruturado para receber turistas LGBT+ que possui até um receptivo especializado. O “Oh My Drag” nasceu com objetivo de guiar e ajudar esse perfil de visitante a aproveitar o máximo sua estadia em Medellín. Com serviço de van, uma Drag trabalha como guia, e entre um shot e outro de bebida (já inclusa no pacote), ela leva os visitantes aos principais points gays da cidade. Contando a história de cada um deles, além das inúmeras histórias de resistência da comunidade LGBT+ local – tudo com muito humor e alegria. O serviço vip, aliás, também ajuda os clientes a pularem filas nas baladas, ganhando tempo e agilidade.
Uma visita no El Machete e o turista estará curtindo o local pioneiro da noite LGBT+ de Medellín. Com 35 anos de história, o bar mantém vivas suas características simples, mas que enchem de orgulho seus proprietários e clientes. Uma linda história de coragem e resistência que aguentou a pressão da igreja, e as ameaças violentas das milícias, do tráfico e até das guerrilhas. Bem na zona boemia da cidade ficam também alguns dos points LGBT+ de Medellin. Convivendo entre restaurantes tradicionais e bares frequentados por héteros, estão o “Donde Aquellhos Bar” e o “Zutra”, dois ambientes vizinhos e descolados, que disputam clientes do segmento, atraídos pela música animada e pela certeza de uma noitada boa. E, por fim, ali pertinho fica também o Chiquita Bar. Ambiente ultra moderno, cuja iluminação em tom avermelhado apimenta o clima, atrai a parcela mais antenada da noite gay de Medellin. É sem dúvida o lugar certo para viver histórias inesquecíveis e fazer novas amizades.
SERVIÇO
Hospedagem
BOGOTÁ
Grand Hyatt
Calle 24 A #57-60
Hamilton Hotels
Cra. 14 #N81-20
CARTAGENA
Hilton Hotel Cartagena
Avenida Almirante Brion
RECEPTIVO
The Queer Scout
A ViaG viajou a convite da ProColombia e com apoio da Câmara de Comercio LGBT da Colômbia, com apoio da April Seguro Viagens e Flexiroam chip internacional.