Representantes do turismo LGBT + reagem negativamente as falas do presidente da Embratur. Os comentários ofensivos à comunidade LGBT+ feitos por Gilson Machado durante uma live transmitida pelo Facebook, ao lado de Damares Alves, ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, gerou uma onda de protestos dentro da comunidade LGBT+. As reações mais fortes vieram dos profissionais que trabalham com esse segmento do turismo.
O executivo que lidera o órgão de promoção do Turismo brasileiro no exterior priorizou sua crença pessoal em detrimento à captação de negócios em um segmento que já mostrou seu potencial como importante aliado para que o Turismo saia da crise pandêmica em curso.
+Fórum de Turismo LGBT se consolida como mais importante do segmento no Brasil
+Associação Internacional de Turismo LGBT + (IGLTA) reúne membros no Rio de Janeiro
+IGLTA adia Convenção Global de 2020 em prevenção ao coronavírus
O episódio aconteceu quando o presidente da Embratur comentou sobre da peça “O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu”, espetáculo com temática LGBT+ encenado durante a sétima edição da Mostra Internacional de Teatro em São Paulo. Em sua fala, Machado Neto ataca o que chama de uma tentativa de “impor a sua sexualidade perante a maioria de cristãos brasileiros” chamando-a de “abominável”.
Descendo ainda mais baixo, Gilson continuou: “E outra coisa, eu não tenho nada contra quem usa seu orifício rugoso infra-lombar para fazer sexo”. Gilson tentou se desculpar logo após sua fala, mas já era tarde. Em pouco tempo, a notícia se espalhou causando uma onda de protestos nas mídias e redes sociais.
Alex Bernardes, criador e diretor do Fórum de Turismo LGBT do Brasil, afirma que a fala não causa estranheza e destaca a resiliência dos profissionais. “O presidente da Embratur erra ao sobrepor suas convicções religiosas à responsabilidade de seu cargo. Fica nítida a falta de conhecimento em relação à representatividade do segmento no setor de Turismo, mas isso não está fora de contexto. Desde o início, o governo deixou clara sua política que vai na contramão das melhores práticas mundiais. É triste, mas não é o fim, já que nossa comunidade é reconhecida pela resiliência. Seguiremos fortes com o trabalho de fomento ao Turismo LGBT+ em nosso País, gerando respeito, renda e mais igualdade”, diz. Criado em 2017 para capacitar o trade no atendimento aos viajantes LGBT+, o Fórum tem conquistado grande adesão, o que reforça o entendimento do empresariado em relação à importância desse público para os negócios.
Dados da pesquisa LGBT Travel Market, promovida anualmente pela Consultoria Out Now/WTM, mostra que o Turismo LGBT+ movimentou US$ 218,7 bilhões em 2018. Ao se posicionar de forma direta contra a comunidade, o presidente da Embratur faz grave ataque aos direitos universais, atravanca a entrada de US$ 26,8 bilhões na economia brasileira e dificulta as relações com países que valorizam o fim do preconceito.
Pesquisa recente realizada pela Associação Internacional de Turismo LGBT (IGLTA) corrobora esses dados no cenário atual ao comprovar que esse perfil será um dos primeiros a retomar as viagens. O estudo mostra que 66% dos respondentes globais e 64% dos brasileiros disseram que pretendem viajar o quanto antes e têm planos para embarcar ainda em 2020. “Nossa pesquisa comprovou que o turista LGBT+ sairá na frente na retomada, mas a fala do presidente da Embratur sinaliza que nosso País perderá espaço frente a outros destinos que já entenderam a importância do segmento, especialmente nesse momento em que vivemos”, lamenta Clovis Casemiro, representante da IGLTA no Brasil.
O presidente da Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil também se manifestou. Em uma carta aberta enviada para os veículos de comunicação, Ricardo Gomes declarou: “Continuaremos defendendo e promovendo o empreendedorismo e empregabilidade da e para a comunidade LGBT, firmando nosso compromisso com o fomento da economia e da geração de empregos”.
Eramos felizes e não sabíamos
É importante lembrar que a Embratur já foi uma das principais associadas da IGLTA, participando ativamente da convenção anual da instituição. A convenção reúne anualmente centenas de profissionais de turismo de vários países com o objetivo de fomentar o turismo LGBT+. Tal esforço colocou o Brasil entre os principais destinos LGBT+ friendly do mundo. O trabalho injetou milhões de reais na economia brasileira.
Uma pesquisa realizada pela prefeitura do Rio de Janeiro durante o carnaval de 2014 revelou que o turismo LGBT+ foi responsável por 30,75% da receita para a cidade durante cinco dias do carnaval do mesmo ano. O impacto econômico com os gastos deste público foi de R$ 461 milhões, sendo um gasto médio diário de aproximadamente R$ 47 milhões. No geral, a renda do carnaval 2014, de acordo com dados da Riotur, foi de R$ 1,5 bilhão.
O observatório apontou ainda que, o turista LGBT+ internacional teve uma média de gasto diário de R$538,82 contra R$302,10 do turista LGBT+ nacional. O mesmo estudo identificou que o consumo médio diário do turista heterossexual foi de R$198,00.
Para Marcos Destro, proprietário da UAU Turismo, uma agência especializada nesse perfil de turista, a fala do representante da Embratur pode ser prejudicial para os negócios e para a luta da comunidade LGBT.
“O mundo LGBT+ é altamente comprador em todas as áreas e, no Turismo em especial, além do grande consumo, somos força de trabalho na aviação, hotelaria, agenciamento de viagens, segmento de guias…. Declarações como esta nos fazem sofrer em duas frentes, o que é muito desanimador, pois buscamos a inclusão e não o incentivo ao desrespeito que pode gerar violência”, declarou Destro.