O Brasil é um dos poucos países a ter uma política de saúde destinada à população LGBT+, considerada uma conquista histórica no reconhecimento de demandas e necessidades levando em conta a orientação sexual e as questões de gênero. Instituída pela Portaria Nº 2.836, em 2011, é também um documento norteador no que se refere às especificidades dessa comunidade, em conformidade ao que está previsto na Constituição Federal e na Carta dos Usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
Mesmo assim, a atuação do farmacêutico, uma importante profissão ligada à saúde, ainda não foi discutida de maneira aprofundada no que refere ao atendimento voltado para essa parcela da população. Dessa percepção, surgiu a campanha #FarmacêuticosPelaDiversidade, criada pelo Conselho Regional de Farmácia da Bahia (CRF-BA) e veiculada em suas redes sociais, para chamar a atenção dos profissionais da área sobre importância de levar à população LGBT+ uma atenção à saúde mais igualitária, abrangente e multidisciplinar.
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A ideia pioneira da campanha que colocou a Bahia em destaque no que se refere à essa discussão, surgiu durante uma live transmitida pelo Instagram da instituição baiana, no dia 14 de julho, com o tema “A saúde da população LGBTQIA+ e o papel do farmacêutico”. Naquela ocasião, a assessora técnica do CRF-BA, Maria Fernanda Barros, conversou sobre o assunto com a farmacêutica clínica e presidente da Associação Brasileira Profissional pela Saúde Integral de Travestis, Transexuais e Intersexos (Abrasitti), Alícia Krüger.
“Fiquei muito contente com o convite para discutir uma pauta voltada para a saúde da população LGBT+, pois são mesmo questões pouco comentadas pelos profissionais farmacêuticos”, afirmou a presidente da Abrasitti.
Alícia Krüger declarou sentir falta de mais espaços para debater o assunto com os colegas de profissão e elogiou a oportunidade promovida pelo CRF-BA. “A iniciativa de abordar este tema para uma categoria fundamental na atenção à saúde é muito importante, pois só com informação é possível oferecer um atendimento cada vez melhor a essa população com necessidades tão específicas”.
De acordo com a presidente da Abrasitti, tanto o Conselho Federal de Farmácia (CFF), quanto os conselhos regionais da categoria ainda precisam despertar para a relevância do assunto. Além disso, ela destacou ser um fato comprovado que travestis e mulheres trans possuem mais dificuldades de acesso ao atendimento à saúde, seja básico ou específico.
Ao longo da conversa, a representante do CRF-BA, Maria Fernanda Barros, alertou para os problemas que podem surgir com o uso inadequado de hormônios, alguns deles adquiridos em farmácias sem a necessidade de se apresentar a prescrição médica. “O farmacêutico é o profissional de saúde mais próximo da população e, nesses casos, pode orientar sobre a forma correta de administrar os hormônios, tempo ideal para o uso e sanar dúvidas no caso do paciente já utilizar algum outro medicamento, por exemplo”.
Após a live, surgiu a ideia da criação de um guia com informações e orientação para ajudar os farmacêuticos a oferecerem esse serviço de maneira adequada. Atualmente, o guia está em fase de elaboração pelas farmacêuticas baianas Naila Neves, Carina Carvalho, Isabel Dielle, Marina Martins e a própria Maria Fernanda, bem como pela paranaense Alícia Krüger.
O guia contará com informações sobre identidade de gênero, conceitos e termos mais utilizados, assim como os pontos estabelecidos pela Política Nacional de Saúde Integral LGBT para capacitar o profissional farmacêutico a se tornar um promotor de saúde inclusiva.
Por: Jorge Carvalho