Por Felipe Abílio
Andar pelas charmosas ruas de pedras irregulares de Paraty te faz viajar sem escalas direto para o século 18. Considerada pela Unesco como o conjunto arquitetônico colonial mais harmonioso do País, a cidade localizada no litoral do estado do Rio de Janeiro – a cerca de 250 quilômetros da capital – tem marcos importantes na história do Brasil durante o período colonial, como o Ciclo do Café e do Ouro.
Usando as trilhas construídas pelos índios Guaianás, os portugueses criaram uma rota de escoamento do ouro e pedras preciosas das Minas Gerais direto para o porto da cidade, com destino a Portugal. Por causa de ataques de piratas, uma nova Estrada Real foi construída, tirando Paraty do foco e levando a região a sofrer isolamento econômico durante décadas.
Com suas construções e paraísos naturais muito bem preservados por quase um século, a cidade voltou a crescer só na década de 1970 com a abertura da rodovia BR 101 (Rio-Santos), dando início ao Ciclo do Turismo. Paraty também é berço de eventos culturais de projeção internacional como a FLIP (Festa Literária de Paraty) e o Bourbon Festival (Festival Internacional de Jazz), fazendo com que a cultura e as tradições da cidade continuem vivas para os turistas que a visitam.
Se durante o dia os paraísos naturais encantam os olhos com as suas praias de águas verdes, que se confundem com a mata fechada das serras cheia de natureza viva, a noite ganha toques de boemia com os jovens circulando pelos barzinhos badalados do centro histórico. Reserve pelo menos três dias para se apaixonar e descobrir essa cidade que ficou tanto tempo longe do alcance das pessoas, mas que vai te conquistar logo de cara.
Fiordes tropicais
Com 65 praias, Paraty é o único lugar no mundo que tem um fiorde tropical. Fiorde é um braço de mar que adentra o continente entre altas montanhas com formações bem características de países escandinavos como Noruega e Dinamarca, onde as montanhas estão sempre cobertas por uma camada de neve branca. Nosso fiorde tropical, conhecido como Saco do Mamanguá, invade 8 quilômetros de uma reserva ambiental de Mata Atlântica densa com suas águas verdes em tom de esmeralda.
A região abriga oito comunidades caiçaras, além de 33 praias paradisíacas, 10 rios e dezenas de cachoeiras escondidas na mata. O fundo do Mamanguá guarda surpresas com uma belíssima área de mangue, onde é proibido navegar com embarcações a motor. Para chegar lá, a dica é embarcar em uma lancha ou escuna em Paraty, de preferência acompanhado por um guia que ensina a fazer o caminho por uma trilha dentro da mata. Se a ideia é ir contemplando a natureza pela trilha, esteja consciente que o condicionamento físico tem que estar no mínimo treinado para boas subidas e descidas. Escolha um tênis confortável, coloque roupa de banho por baixo e jamais esqueça um bom repelente por causa dos borrachudos
Passeio pela história
Após se aventurar pelos fiordes, aproveite o fim da tarde para passear pelos pés-de-moleque – nome dado para as ruas de pedras do Centro Histórico – e que te faz encontrar uma surpresa a cada virada de esquina. Casarões dos séculos 18 e 19 escondem histórias e símbolos de muito poder na época, como esculturas de abacaxis em algumas sacadas representando a realeza, ou inúmeros símbolos da maçonaria gravados nas paredes externas.
Para descobrir os detalhes por trás de construções famosas – como a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios (1866), que teve sua torre diminuída para evitar que a construção partisse ao meio; ou a Igreja de Nossa Senhora das Dores (1800), que era da aristocracia e de uso exclusivo das mulheres – o mais indicado é fazer um passeio de uma manhã com um guia local.
Vida noturna
Como a cidade é um destino internacional que não para o ano todo, referências de outros países vão do artesanato à culinária e estão presentes nas lojinhas e restaurantes da região. Aproveite para comprar lembrancinhas locais, tomar as famosas cachaças e comer um peixinho fresco em algum restaurante aconchegante.
Paraty 33
Com o cair da noite madrugada adentro, aproveite para conhecer a agitação da vida noturna da cidade. Bem no meio do centro, o Paraty 33 oferece uma mistura de restaurante, bar e balada tudo no mesmo lugar. Vá com os amigos jantar ao som de música ao vivo e relaxe porque a festa não tem hora para acabar na pista.
The Secret Club
Um lugar para se jogar no funk pancadão não poderia deixar de existir numa cidade do Rio de Janeiro e o The Secret Club oferece isso na medida certa. Faça um esquenta nos barzinhos do Centro Histórico e prepare o quadradinho de oito para dançar até amanhecer.
Conhecendo os alambiques
Escutar gente pedindo uma “Paraty” nos bares do período colonial era comum na cidade. No século 18, as cachaças e pingas produzidas por lá eram tão boas que foram exportadas para Portugal, França e outros países europeus. Em 1908, a cidade recebeu a Medalha de Ouro com a Pinga Azuladinha, a famosa “azulada do Peroca”, na Exposição Industrial e Comercial do Rio de Janeiro. De lá para cá, a tradição não se perdeu e ainda é possível conhecer de perto as histórias da produção dos destilados.
Construído em 2007, o Alambique Pedra Branca oferece um passeio guiado mostrando o passo a passo, desde a colheita da cana, a separação do coração – a parte principal do destilado -, até a bebida pronta e engarrafada. Após conhecer todo o processo, você poderá degustar todos os sabores produzidos, como cachaça com banana, chocolate, gengibre e até pimenta. Vale lembrar que Paraty realiza todos os anos, em agosto, um dos maiores festivais de pinga do Brasil.
Tailândia atrás da porta
Outro restaurante imperdível da cidade é o Thai Brasil. Especializado em comida tailandesa, ele foi criado pela chef alemã Marina Schlaghaufer que, nos anos 2000, se apaixonou pela culinária em viagens para a Tailândia e resolveu se fixar em Paraty com o negócio. A pequena portinha de entrada em uma das ruas de pedra da cidade exibe um ambiente muito bem decorado com toques artesanais, tudo feito por Marina, artista plástica por hobby. Na cozinha, uma variedade de receitas típicas como saladas, sopas, grelhados, fogosos curries com carnes, frutos do mar e vegetarianos.
Experiência VIP
A noite de Paraty pode ficar ainda mais agradável se você está à procura de uma experiência gastronômica exclusiva. A chef brasileira Yara Castro e o marido norte-americano, Richard Roberts, recebem até 12 convidados em casa para uma noite animada de preparo do jantar dentro do projeto “Academia da Cozinha e Outros Prazeres”. Ao som de jazz, Yara finaliza os pratos com a ajuda dos convidados, enquanto conta a história de Paraty através dos ingredientes locais usados no preparo.
A experiência se torna ainda mais fantástica pela curiosidade da história de vida dos anfitriões: Yara é bailarina e já foi apresentadora de uma série de televisão chamada Cook’s Tour, indicada ao Emmy pelo canal americano PBS; enquanto Roberts é fotógrafo e fez sucesso como CEO de grandes multinacionais.
Um dos detalhes mais charmosos da casa são as fotos de Roberts na parede da sala, em uma delas, duas noivas aparecem de mãos dadas andando pela Grand Central Terminal de Nova York.
Para dormir e aproveitar
Com a economia da região toda voltada para o turismo, a rede hoteleira da cidade tem 99 estabelecimentos cadastrados que agradam a todos os bolsos e gostos.
Caa Brasil Hostel
Se a ideia é se hospedar com conforto e economizar para se aventurar na cidade, o Caa Brasil Hotels é o lugar ideal já que está localizado a 180 metros da rodoviária e cinco minutos do Centro Histórico. A casa tem ambientes amplos e interligados e o staff te recebe como se você fosse da família. São 16 camas, área de convivência e contato direto com a natureza. O café da manhã está incluso na diária.
Pousada Corsário
Já quem preza pelo conforto e quer acordar com uma vista linda da cidade, a pousada Corsário é a opção certa. Administrada pelo Grupo Samadhi Hotels, ela está localizada a sete minutos a pé do centro histórico e oferece 39 apartamentos do tipo chalé totalmente equipados. A área de lazer inclui piscina, salão de jogos, sauna a vapor mista e jardins tropicais com quiosques, mesas e cadeiras.