Aprovado pelo Edital “Criação e Formação Diversidade das Culturas” da Sedac em parceria com a Fundação Marcopolo, um dos mais importantes da história do sul do país, o filme documentário “Intransitivo: um documentário sobre narrativas trans” contará as histórias de vida de 8 pessoas trans de diferentes pontos do Rio Grande do Sul. As gravações serão em locais escolhidos pelas pessoas entrevistadas, simbolizando o objetivo maior do projeto: a identificação e reconhecimento do público com realidades diversas de pessoas trans.
No país que figura como líder no ranking dos que mais matam pessoas trans no mundo, pelo 13º ano consecutivo, mostrar que existem possibilidades de vida fora desta realidade – constantemente reafirmada pela mídia – é uma forma de resgatar a dignidade dessa população tão vulnerabilizada. A partir desta certeza, o time formado por Gabz 404, Gustavo Deon, Lau Graef Dutra Camargo e Luka Machado percorrerá não somente uma jornada pelo estado, mas também para dentro de si mesmos, já que os quatro são também pessoas trans.
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Outra escolha que ressalta o compromisso com a absoluta lealdade às vivências reais de pessoas trans é a escolha de usar também cenas de backstage, com conversas entre a equipe sobre suas tomadas de decisão, discussões sobre os temas abordados e também vivenciando suas relações interpessoais durante as viagens para gravação das entrevistas.
Durante a única semana em que ficou on-line o formulário de inscrições para a seleção, foram 304 respondentes e mais de 80.000 visualizações no Instagram, com o apoio de representatividades LGBTQIA+ conhecidas nacionalmente para a divulgação, como Sérginho (@realserginho), Luca Scarpelli (@transdiario), Jonas Maria (@jonasmariaa), Miguel Filpi (@miguelfilpi), Kaique Theodoro (@kaique.theodoro), Renata Carvalho (@renatacarvalhoteatro), entre outras pessoas.
“Um de nossos maiores desejos é sermos protagonistas de nossas próprias narrativas”, conta a equipe. Segundo elus*, a representatividade que a mídia produz atualmente sobre a vivência de pessoas trans, principalmente televisiva, é falsa. Exemplo são os personagens trans de ‘A Força do Querer’, telenovela brasileira produzida e exibida pela Rede Globo, escrita por Glória Perez. “A narrativa do personagem Ivan traz seu processo de reconhecimento enquanto pessoa trans, porém Ivan é interpretado por uma atriz que não é trans. Já a personagem Elis, interpretada por um ator não trans, traz um enredo ultrapassado sobre o que é ser travesti, afirmando que travestis performam e não sentem desconforto em seus corpos”, explicam.
“Intransitivo” será um mediametragem, ou seja, deverá ter cerca de 40 minutos. A ideia é que, como as entrevistas serão conduzidas também por pessoas trans, o material registrado traga histórias e percepções mais profundas e realistas. Com a construção de um ambiente seguro será possível evitar perguntas invasivas. Por fim, a equipe enfatiza: “se calar é contribuir com os dados de transfobia, não compartilhar nossas vitórias é contribuir com as taxas de suicídio entre es* nosses*”.
* e **: linguagem neutra comumente usada por pessoas que lutam pela diversidade LGBTQIA+.
CONHEÇA O TIME DE “INTRANSITIVO”:
Gabz 404
Transmasculino não-binário. Ativista e multi-artista: fotógrafo, videomaker, social media, escritor, e empreendedor. Atua principalmente nas áreas documental e artística. É idealizador e realizador do Ser Trans (@ser.trans), projeto de ativismo artístico que explora, através de fotografia e entrevistas, diferentes vivências de pessoas transgêneras no Brasil, abrindo espaço para que essas pessoas possam contar suas próprias histórias sem o intermédio de pessoas cis. Luta para que mais e mais pessoas trans possam ter representatividade na frente e atrás das câmeras.
Gustavo Deon
Transmasculino. Ator, diretor, professor e poeta, formado em Teatro – Licenciatura pela UERGS – Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Ativista pelo coletivo CATS (Coletivo de Artistas Transmasculines). Seu trabalho evidencia uma vasta representatividade sobre Arte e Educação, fortalecendo a produção artística e a visibilidade trans no interior do RS. Tem desenvolvido diversos projetos com foco no acolhimento durante a pandemia, buscando fortalecer o trabalho de artistas LGBTQIA+. Criador de conteúdo para a internet com base em sua pesquisa sobre transgeneridade.
Lau Graef Dutra Camargo
Transmasculino. Cursou Comunicação Social na ESPM Sul. Graduando em Artes Visuais – Licenciatura, na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS. Integrante do grupo de pesquisa “O infraordinário como método de pesquisa em educação e arte” e também do Coletivo Guapes: coletivo autônomo de estudos em práticas de autocuidado e bem-estar para pessoas trans ativistas. Pesquisa de forma autônoma o uso do registro e da criação de linguagens enquanto estratégias de sobrevivência para corporalidades e afetos dissidentes. Desenvolve trabalhos em artes visuais com ênfase em performance, fotografia, audiovisual e vídeo arte. Ativista autônomo transfeminista.
Luka Machado
Travesti. Multi-artista: Artista visual, empreendedora, poetisa e pesquisadora de linguagens e visualidades decoloniais. É ativista, criadora de conteúdo na internet e trabalha no desenvolvimento de projetos com foco no acolhimento e na visibilidade LGBTQIA+. Ao todo, produziu e desenvolveu mais de 10 projetos aprovados em editais pelo Rio Grande do Sul durante a pandemia, suas mídias são portas de divulgação deles e sempre um convite a quem busca esse acesso com pessoas LGBTQIA+. Trabalha como atriz e social mídia no grupo teatral Tribu Di Arteiros.